30 maio, 2008

"Não temos vagas para a sua idade, desculpe"

A população activa nacional tem vindo a envelhecer, fenómeno esse cuja dimensão atinge quase toda uma Europa. Cada vez as famílias se coíbem a ter filhos acima da média nacional 1,38, assim, a população não só estagna o seu crescimento, como as classes etárias mais avançadas se tornam as predominantes, até aqui nada de novo.

Não obstante os recentes dados da diminuição na taxa de desemprego em Portugal, no período homólogo em 2007, devemos observar que esse decréscimo apenas se verificou em idades compreendidas entre os 15 e 44 anos de idade, este mesmo estudo do INE avança que a partir dos 45, a taxa terá aumentado 1,9%, mais se verifica que o número de cidadãos que passaram para os quadros da população inactiva aumentou também ele, sendo que a percentagem dos que transitaram do desemprego para a inactividade ascende aos 17,2%, no cômputo geral.

Qual a justificação? É verdade que se vive em período de recessão e a escalada do desemprego a todos atinge, mas o que é facto é que a corda volta a quebrar para o lado mais fraco e esse continua a ser o desempregado com mais idade, que busca emprego incessantemente até que, exaurido, vê as suas tentativas frustradas. A máquina capitalista ignora hoje aqueles que possuem mais experiência no mercado de trabalho, talvez por os mesmos terem já consciência do seu valor no mesmo. A própria estrutura formativa estatal, que suporta os que estão desempregados, acaba por criar discriminações bem reais, ao afastar de tais acções de profissionalização indivíduos com uma determinada idade.

A asserção pelos mais novos em detrimento dos mais velhos atinge proporções perigosas, está visto. O desespero dos que procuram forma de sustento próprio e familiar, leva-os a afastarem-se do mercado, sobrevivendo como? Depressões, crises familiares, quebras de auto-estima e outros podem resultar de tal facto. Será que estamos a dar a devida atenção a este fenómeno social? É recorrente apelar ao Estado que se substitua aos privados e se vocacione a resolver todo e qualquer problema social, mas o que é facto é que, neste particular, é a todos nós que cabe intervir, uma mudança de consciência social é urgente pois ao ritmo que a população tem envelhecido e a natalidade reduzido, é bem provável que a escalada de desemprego continue o seu perigoso trajecto atropelando, pelo caminho, aqueles que, ao seu tempo, produziram riqueza para o país.

"A idade é um simples preconceito aritmético."
Georges-Louis Leclerc


Saulo Chanoca

26 maio, 2008

Há um lugar para mim…adaptado?

Hoje em dia ouve-se e fala-se na palavra “discriminação”, umas vezes com vários sentidos, outras com vários destinatários. Mas quem colocará na prática tudo o que se ouve, o que se fala ou até o que se pensa? É neste contexto, que importa falar nos deficientes, enquanto um dos destinatários da discriminação, a quem deve ser reconhecida dignidade humana e, como tal terem os meios e as oportunidades adaptadas, para caminhar na vida sem obstáculos sociais, que podem ser removidos aquando de uma profunda mutação da mentalidade social, e até de algumas opções políticas.

Na verdade, feito um percurso pelos vários séculos antecedentes, reconhece-se que houve uma evolução na aceitação das pessoas com algum tipo de deficiência, uma vez que, actualmente, alguns locais públicos estão adaptados e alguns postos de trabalho são ocupados por estas pessoas. Mas, “alguns” não basta! Sabemos que quando passamos numa rua, ou quando entramos numa escola, num café, numa loja, entre muitos outros locais públicos, pouco ou nada está adaptado, e, portanto, a palavra de ordem deveria ser que “tudo” está adaptado e pensado, não apenas nas facilidades de deslocação de muitas pessoas, mas também nas dificuldades de muitas outras, porque estas também devem ter o direito de passear e de poderem entrar em qualquer lugar público sem se depararem com passeios sem rampas, lojas com expositores acumulados, entre vários outros entraves que encontramos em qualquer virar da esquina. Onde está a acessibilidade? Certo é que vários autocarros e comboios têm lugar para os deficientes…mas por que não todos? Várias escolas têm docentes especializados e adaptação das salas, refeitórios e casas de banho…mas por que não todas? E os cinemas? Os teatros? Será que a evolução dos tempos, e o aparecimento de cada vez mais pessoas com este tipo de dificuldades não dita também uma evolução dos ditames de construção e reformulação de locais, ruas e até meios de transporte? É claro que a resposta tem de ser obviamente positiva, porque os deficientes têm tanto direito de frequentar estes lugares, de aprenderem e de trabalharem na área para que estão vocacionados como qualquer pessoa que não tenha este tipo de dificuldades.

A verdade, é que várias opções políticas são colocadas em prática, e poucas são as que se lembram que é urgente resolver este problema social, que afecta uma percentagem considerável da população… se já se tem a solução, por que razão não a colocam em prática? Se há verbas para investimentos supérfluos, não haverá também para ajudar quem tem dificuldades físicas, quebrar barreiras de acesso e construir uma sociedade mais mentalizada e adaptada a uma realidade que é histórica, mas que adquire novas proporções todos os dias?É necessário perceber que é injusto e discriminatório que para uns haja tudo, e para outros haja pouco, ou até nada.

Estas pessoas são apenas diferentes quanto a algumas capacidades, mas esta diferença deve ser o pretexto para adaptar o que existe, e não uma forma para justificar a indiferença ou até a discriminação de que são alvo: têm todos os direitos e deveres inerentes à condição de ser humano e ao estatuto de cidadão, cuja dignidade e valor devem ser respeitados, passando, obviamente, pela criação de meios para que possam viver enquanto membros integrantes de uma sociedade que terá de aceitar e conviver com tal realidade, porque “todos somos filhos de Deus”. O progresso passa, também, por atingir esta meta social…

Iolanda Bastos

25 maio, 2008

"O Todo Pela Parte"

Ana Patrícia Pires