02 junho, 2008

Negro Darfur em Nós de luto

No Negro Darfur o Direito foi vencido pela força bruta e pela violência gratuita. O povo do Darfur sofre um genocídio silencioso e agonizante, como foram todas as limpezas étnicas. Estão os autores do genocídio protegidos por um direito internacional que é criado e feito respeitar pelos Estados mais poderosos. A impunidade é a regra e com isso contam os culpados.

Sem protectores entre os que mandam na ONU; sem matérias primas que justifiquem uma intervenção internacional armada; sem posição estratégica que suscite empenhos suficientes para que se pare já com a matança, o povo do Darfur começa a definhar a caminho da extinção como comunidade humana com identidade própria a viver no território de origem.

Face à enormidade do problema importa pouco discutir as minudências que estão em cima da mesa das negociações políticas. Tudo é demasiado pequeno face aos dramas diários das pessoas e às cada vez mais escassas histórias bem sucedidas de sobrevivência.

O Darfur revela: o fracasso da comissão de descolonização da ONU que nos seus preconceitos raciais e políticos não denuncia a colonização árabe da África e os seus efeitos directos na leitura a fazer da crise do Darfur; os receios de uma política internacional que hesita e cede face ás crescentes e arrogantes formas de confessionalização islâmica dos Estados africanos, com o cortejo de violações de direitos fundamentais da pessoa humana; e o imenso pântano em que transformou o projecto de unidade africana em torno da União Africana, incapaz de agir de forma positiva no Darfur.

Face a tudo isto restamos Nós. Aqueles que ainda se importam. Restamos Nós que acreditamos na imensa capacidade do Homem para lutar pelo seu semelhante, nas situações mais adversas. Restamos Nós a cumprir um dever de Humanidade pelos sobreviventes do Darfur, para que ainda valha a pena acreditar em Nós.


EduardoVera-Cruz Pinto



Raquel Pires