25 abril, 2008

Abril, logo opino...

O que tem um jovem a dizer sobre um acontecimento que não viveu e que cujas convolações não acompanhou? O que pode alguém distanciado por quase uma década ter a dizer sobre um período da história do seu país que não teve a oportunidade de experienciar? Muito pouco! Diriam certos críticos modernistas. Tudo! Diriam os maiores conservadores, bom, isto caso a opinião fosse favorável ao passado facto, as afirmações seriam vice-versa se a mesma fosse desfavorável e lá nos perdíamos numa corrente – desconfiada – de concepções, ideias e juízos.

Talvez esse tal levantamento de 25 de Abril, desses anos lá para trás, tenha deixado como maior legado esta nossa capacidade de opinar, em tudo e por tudo. Todos temos alguma opinião sempre, sobre a postura de determinado político, sobre a conduta errónea de certo partido, a má gestão do interesse público, isto, aquilo e aqueloutro… Aí todos apontamos o dedo, agora entra o jovem que não viveu esse tal período de mudança e entra porquê?

O jovem entra porque protesta, é irreverente, quer saber para poder opinar, dizer de sua justiça, é um direito de Abril! Mas é esta geração que nos está a florescer, uma geração contestatária, que quer refilar e que quando o faz, lembra logo os capitães, para que a sociedade não esqueça que essa tal liberdade de expressão ressuscitou aí.

Permitam-me que opine, Abril não nos trouxe só a espada para lutar, trouxe um Reino novo para defender. Trouxe mais responsabilidades que apenas permissões genéricas e esta responsabilidade é um privilégio, não basta protestar. Uma sociedade evoluída constrói-se em diálogo permanente entre as instituições e o povo.
No início mencionei que talvez o maior legado de Abril, tivesse sido a faculdade de opinar, mas ora reformulo que o maior mesmo é o que nos permite ser a própria instituição e, sem mediatismos, negociar o progresso sem receio do mesmo.

“A política é o governo da opinião” Carlo Bini

Saulo Chanoca

24 abril, 2008

25 de Abril, lembrar...

Passaram já 34 anos desde aquela que ficará para história como a Revolução dos Cravos, a revolução pacifica, deve ser única no mundo porque não só foi feita por militares como tiveram apoio das massas e conseguiram devolver o poder a quem de direito. Pode-se discutir muito sobre se estes 34 anos foram melhores ou piores do que os 40 do antigo regime, mas para mim basta olhar do ponto de vista dos direitos humanos para não me restarem duvidas de qual o melhor regime.

Presumo que toda a gente conheça vagamente a história da Amnistia Internacional, ela nasce 1961 depois de uma notícia num jornal britânico de que dois estudantes portugueses haviam sido presos por terem gritado “Viva a Liberdade!” na via pública. Foi a liberdade de gritar o que quer que nos apeteça na rua aquilo que mais valioso o 25 de Abril, claro que foi a guerra que mais motivou a acção nas palavras do poeta Ary dos Santos “dai ao povo o que é do povo/ pois o mar não tem patrões./ -Não havia Estado Novo nos poemas do Camões!”, mas nunca subestimem o valor da liberdade. Hoje em dia somos livres o suficiente para votar em António Oliveira Salazar como o maior português de sempre. Passaram 34 anos desde que este antigo chefe de Estado andava a mandar prender pessoas por gritarem viva a Liberdade, temos 9 séculos de história como país e não se encontra ninguém melhor, ninguém que no dia em que o seu regime acaba não seja feriado nacional.

Muitas pessoas não compreendem como se podem esquecer valores, melhor direitos, tão importantes como a liberdade de expressão. Será que fazemos o suficiente para lembrar o que mais de importante conquistámos no 25 de Abril?

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

Mais uma vez José Carlos Ary dos Santos, uma estrofe do poema “As Portas que Abril Abriu”

João Pedro Chaveiro Lopes da Cruz