07 maio, 2010

“Brinquedos por Direitos? Sonhos por Direitos?”

Antoine de Saint-Exupéry – “O Principezinho”

“Uma vez, tinha eu seis anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado “Histórias Vividas”. Era uma jibóia a engolir uma fera. O livro explicava: "As jibóias engolem as presas inteirinhas, sem as mastigar. Depois nem sequer se podem mexer e ficam a dormir durante os seis meses que a digestão demora.”
Então, pensei e tornei a pensar nas aventuras da selva, peguei num lápis de cor e acabei por conseguir fazer o meu primeiro desenho.
Fui mostrar a minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei-lhes se o meu desenho lhes metia medo. As pessoas grandes responderam: “Como é que um chapéu pode meter medo?”
O meu desenho não era um chapéu. O meu desenho era uma jibóia a digerir um elefante. Para as pessoas grandes conseguirem perceber, porque as pessoas grandes estão sempre a precisar de explicações, fui desenhar a parte de dentro da jibóia. As pessoas grandes nunca percebem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de ter que estar sempre a explicar-lhes tudo.”

Este excerto de “O Principezinho”, e todo o livro, leva-nos a reflectir sobre questões como as relações das crianças com as “pessoas grandes”; a crueldade do mundo para com estes seres tão cheios de espírito e de sonhos; a troca dos brinquedos por um direito a integrar a sociedade, o mundo real…
Será que quando éramos crianças e falávamos de jibóias e histórias mirabolantes, tínhamos mais juízo?
Nestas primeiras páginas do pequeno livro de Antoine de Saint-Exupéry, o menino de seis anos, enquanto se deixava fascinar pelas “Histórias Vividas” da Floresta Virgem, foi logo forçado a desistir da carreira de pintor e a dedicar-se antes à matemática, à história, à geografia, ao direito. Será que, quando pequenos somos forçados, mesmo que inconscientemente, a abandonar os sonhos para os trocar pelo “nível correcto de juízo”? Claro que somos!
Mas será que também temos de trocar os nossos sonhos por um direito a pertencer à sociedade? Sonhos por direitos? Brinquedos por direitos?
E depois vamos trocar os direitos por quê?
Seremos “pessoas grandes” que não percebem que uma jibóia fechada não é o mesmo que um chapéu. Seremos Homens “com juízo”. Procuraremos incessantemente explicações para tudo. E perderemos toda a nossa criatividade para sonhar.
Será que as crianças poderão ensinar-nos alguma coisa sobre direitos?
Interrogações é o que vos deixo. Está aberto o debate.

Rita Fonseca

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